Crise entre os caciques tucanos
O “racha” da bancada tucana na Câmara dos Deputados desgastou o governador de São Paulo, José Serra, junto aos demais caciques do PSDB, que sempre foram críticos do seu estilo “trombador” na condução da luta interna. Ontem, o presidente da legenda, o governador mineiro Aécio Neves, a governadora gaúcha Yeda Crusius e o prefeito curitibano Beto Richa ligaram para o líder da bancada, deputado José Aníbal (SP), se solidarizando com o parlamentar, que foi reconduzido ao cargo. A dissidência tucana é formada por 19 parlamentares que seguem a orientação do Palácio dos Bandeirantes. Serra está no exterior e não se manifestou sobre o episódio.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), tenta acalmar os ânimos. A oposição ao líder do PSDB é liderada pelos deputados Jutahy Magalhães (BA), Paulo Renato (SP), Antônio Pannunzio (SP) e Arnaldo Madeira (SP), com velado apoio do Palácio dos Bandeirantes. “Esse é um assunto encerrado. Alguns companheiros que assinaram o manifesto já me procuraram ou mandaram recado de que querem conversar. Os que pretendem ter uma atuação independente são os que se acham melhor e mais inteligentes do que os outros”, minimiza Aníbal.
Segundo o parlamentar, o dispositivo original do regimento interno permitia a recondução do líder por um mandato consecutivo, “como aliás é a posição histórica do PSDB, pois afinal patrocinamos a reeleição de Fernando Henrique Cardoso”. Porém, foi modificado em outubro para impedir sua reeleição porque havia um veto do grupo dissidente. “Na época, não falei nada porque pareceria que eu pretendia continuar no cargo a qualquer preço. Surgiram vários candidatos a líder, mas a maioria da bancada quis minha permanência na liderança”, explica Aníbal.
A pedido do governador José Serra, Aníbal chegou a ter uma conversa com o ex-ministro Paulo Renato, na tentativa de um acordo. “Ele exigiu que eu renunciasse à liderança, o que era um ultimato. Para ser líder, é preciso ter votos na bancada”, conta Aníbal, reconduzido por 39 votos e uma abstenção, com apoio da bancada mineira. Na eleição anterior, quando disputou com Paulo Renato, três dos seis deputados de Minas haviam votado no ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso. Dessa vez, por orientação do governador Aécio Neves, os mineiros votaram pela recondução de Aníbal.
Uma das causas da oposição à Aníbal é a disputa pelo governo de São Paulo. Alguns dissidentes articulam a candidatura do chefe da Casa Civil paulista, Aloysio Nunes Ferreira, à sucessão do governador José Serra. “Não vem ao caso analisar aqui os méritos e deméritos de Aníbal. Mas sua conduta, no episódio da eleição da liderança, é algo que não se espera, nem se aceita, de um parlamentar ao qual o PSDB nunca negou nada. Inclusive a possibilidade de concorrer a cargos para os quais, de antemão, todos sabiam que lhe faltava um mínimo de viabilidade eleitoral”, critica Pannunzio, numa alusão à candidatura de Aníbal ao Senado em 2002.
Personagem da notícia - À frente dos dissidentes - O líder serrista da bancada tucana é o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), que sempre foi um dissidente da política nacional do PSDB por causa da aliança com o DEM. Herdeiro de tradicional oligarquia política baiana, o parlamentar nunca aceitou qualquer acordo com o “carlismo”, como é denominado o grupo do falecido senador Antônio Carlos Magalhães. Jutahy teve discreta atuação na rebelião da bancada, mas assinou o manifesto do “Movimento Unidade, Democracia e Ética”, no qual os 19 dissidentes anunciam que não seguirão a orientação de Aníbal “por considerar ilegítima sua eleição”.
“Esse episódio não tem nenhuma importância, o único desgaste é do José Aníbal”, minimiza Jutahy, que se diverte com as agruras do líder e com o racha da bancada. O parlamentar baiano é o único credenciado por José Serra a falar em seu nome na Câmara, cacife adquirido graças à sólida amizade entre ambos. Em torno de sua liderança informal, reúnem-se outros dissidentes não-paulistas, como o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), responsável pelo programa de governo de José Serra na campanha de 2002; os deputados Gustavo Fruet (PR) e Zenaldo Coutinho (PA).
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